quinta-feira, 4 de outubro de 2007

VIOLÊNCIA: qual o papel da escola?
Judite Rodrigues

Nos últimos anos a violência passou a fazer parte do nosso cotidiano, o que explica nosso interesse em discuti-la. A violência foi destacada por pessoas de diferentes camadas sociais, como um dos principais problemas, principalmente aquela que atinge a nossa vida e nossa integridade física.
Para que possamos entender melhor os determinantes da violência e o papel da educação, algumas questões nos parecem pertinentes para ajudar a nossa reflexão. De que forma a violência é gerada na nossa sociedade? Quais os valores que têm norteado as diferentes práticas sociais e entre estas, a educacional? Qual o papel da educação e da escola diante de uma sociedade com características violentas? Estas são perguntas fundamentais.
Embora considerando que todas essas manifestações de violência estão imbricadas, vamos abordar neste texto, à violência escolar, sobretudo a que se manifesta de forma subjetiva nas relações sociais no interior da escola.
Este problema tomou tamanhas proporções que está sendo visto como de âmbito mundial e também como uma questão de utilidade pública, pois sua manifestação se propaga em proporções semelhantes às das doenças infecciosas afetando a todos.
No Brasil temos que considerar a história da formação do nosso povo, com a escravidão gerando comportamentos de servidão, de mando e de submissão, em que o indivíduo é desrespeitado na sua condição fundamental de pessoa humana e tratado como objeto de manipulação dos seus proprietários. Sérgio Adorno (1994) chama a atenção para o fato de que, durante o período monárquico, a sociedade resolvia os seus conflitos relacionados à propriedade, ao monopólio do poder, e à raça, utilizando, de um modo geral, o emprego da violência. Este era considerado um comportamento normal, legítimo e por ser rotineiro passava a ser institucionalizado. É como se fosse um processo natural, justificando até uma certa aquiescência da sociedade.
Ao longo da nossa história, o que se tem observado é que o fundamento básico é o bem comum e o bem público a todos os cidadãos. Esse quadro de violência pouco se modificou, até porque no campo político temos convivido com várias alternâncias de regimes autoritários, ditatoriais, que implodiram o direito de liberdade dos indivíduos. Estes foram períodos que trouxeram elevados custos à convivência democrática, com violação do direito à vida e inúmeras mutilações físicas.
Esta realidade do nosso país serve para desmascarar a imagem tradicional de que o brasileiro é um povo sentimental, ordeiro e pacífico. O fato de a sociedade brasileira ser organizada e determinada por um modelo econômico capitalista extremamente excludente, caracterizado por uma grande concentração de renda, aliás, uma das maiores do mundo, este se constitui em um dos principais fatores da desigualdade e da violência. Essas grandes diferenças geram privilégios para alguns e, conseqüentemente, a ausência de direitos para muitos.
É a sociedade do mundo capitalista que valoriza, essencialmente, o consumo, as coisas materiais, a aparência em detrimento da essência da pessoa humana. É um total desvirtuamento do significado de ser gente, ser sujeito, ser pessoa. Valores como solidariedade, humildade, companheirismo, respeito, tolerância são pouco estimulados nas práticas de convivência social, quer seja na família, na escola, no trabalho ou em locais de lazer. A inexistência dessas práticas dão lugar ao individualismo, à lei do mais forte, à necessidade de se levar vantagem em tudo, e daí a brutalidade e a intolerância.
A violência perpassa as diferentes relações sociais e aparece de forma explícita nos meios de comunicação de massa. São vários os programas que enfatizam com veemência atos de violência e até de barbárie que acontecem freqüentemente nas sociedades em geral. A televisão comumente apresenta programas com brincadeiras desrespeitosas em que os indivíduos são usados como objeto sarcástico. Até os programas infantis não fogem a essa conotação violenta.
É neste contexto que entendemos a violência, enquanto ausência e desrespeito aos direitos do outro. É a violência sutil que, em geral, não aparece de forma tão explícita e serve para dissimular conflitos.
Qualquer projeto de escola que busque a formação da cidadania, precisa ter como objetivos tratar e ser tratado todos os sujeito com dignidade, com respeito à divergência, valorizando o melhor de cada um, fazendo com que a escola se torne mais atualizada para que os alunos gostem dela, trabalhando a problemática da violência e dos direitos humanos a partir do processo de conscientização permanente, relacionando esses conteúdos ao currículo escolar e incentivando comportamentos de solidariedade e de diálogo se quisermos formar seres capazes de se indignar, de se escandalizar diante de toda forma de violência e de humilhação. A atividade educativa deve ser espaço onde expressamos e partilhamos esta indignação através de sentimentos de rebeldia pelo que está acontecendo. Acreditamos que esta deva ser a nossa utopia. Apaixone-se pela vida...

Referências

ADORNO, Sérgio. Violência: um retrato em branco e preto-In Revista Idéias-nº 21-FDE-SP-1994.

DIMENSTEIN, Gilberto. A Epidemia da Violência. Folha de São Paulo- 22/09/96.

SILVA, Aida Monteiro. A Violência na Escola: a percepção dos alunos e professores-1995-mimeo.

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